Na primeira noite foi apenas a presença.
A sensação de que alguém estava no quarto.
Seus olhos se abriram, mas nada viram.
Era cedo demais.
No segundo dia estava mais próximo.
Alguns passos.
Foi apenas um suspiro para que acordasse e duvidasse da sanidade.
Mas ainda era muito cedo.
No terceiro dia já não dormia direito.
Revirava na cama sem saber o motivo.
Na verdade sabia, mas não queria aceitar.
Ainda era cedo.
No quarto dia senti sua mão.
Debaixo do cobertor.
Gélida!
O susto foi grande, mas já era tarde.
Já estava perto demais de minha alma.
Eu vi tão de perto!
Não consegui acreditar que finalmente estava tão perto!
No quinto dia já esperava o fim.
Entrei no quarto e estava lá.
Parado.
Olhando para mim.
Não se movia!
Me apaixonei.
Me aproximei.
Nossos olhos e almas se mesclaram.
Senti que estava indo embora.
Finalmente!
Se foi!
Mas... se ele se foi, quem está escrevendo isso?
Acordei na madrugada sentindo um cheiro estranho.
Lá estava ele no canto do quarto.
Me olhando.
Sem se mover.
Puxei a coberta e lágrimas escorreram de meus olhos.
O que ele quer de mim?
Porque nunca me deixa em paz?
Porque sempre me vigia?
O vulto permaneceu imóvel.
Eu queria gritar, mas não conseguia.
Nunca consegui!
Aquele cheiro de carne morta me congelava! Me matava! Me petrificada!
Meu coração estava parando.
Batia cada vez mais lentamente.
Menos.
Menos.
Men...
Toda noite eu ouço barulhos na minha sala.
Eu não durmo mais lá.
Estou chorando nesse momento só de pensar no que acontece todo dia.
Ouço vozes.
Ouço passos.
Ouço respirações ofegantes.
Ouço choros!
Nunca vou ao banheiro antes do amanhecer.
Tenho medo do que encontrarei lá.
Do que encontrarei quando abrir a porta.
Eles não entram no meu quarto, mas arranham minha porta.
Não sei até quando conseguirei resistir.
Não sei até quando conseguirei ficar sem dormir, com medo de abrir os olhos e me encontrar com um deles.
Eu tranco a porta, mas eu tenho certeza que um dia eles vão conseguir entrar.
Oh, meu deus!
A maçaneta está girando!
Estão girando a maçaneta!
...