Ele sorriu com graça.
Estava feliz de eu não estar lá
para fazer o que eu deveria
ter ido fazer.
Não disse nada, mas eu sabia.
Eu sabia,
de alguma forma que não sei qual,
que ele sorria por dentro.
Naquele olhar
estava a Alma de uma criança.
Uma criança abandonada,
com medo,
que lutava pela própria vida a qualquer custo.
Eu sentia seu medo e tinha vontade de abraçá-lo.
Suas mãos trêmulas diziam tudo que eu precisava ouvir.
Não eram necessárias palavras.
Na conversa revelou-se o desejo
de estar com alguém que fosse vivo.
Alguém de carne, osso e... alma.
Será que é tão difícil assim?
Será que é tão difícil
achar uma Alma
quando se oferece apenas
carne
e osso?
Ou será que se oferece apenas carne e osso
por não achar a própria Alma?
Sim, aquela mesma Alma
que talvez
nunca tenha se encontrado
em Si.
Onde ficam as almas nessas horas?
Será que,
antes deste momento,
já existiam?
Já me chamaram de superdotado.
Eu respondi:
“Me chame de obcecado.”
Retrucaram:
“Mas, obcecado pelo quê?”
Obcecado
pelos meus sonhos,
oras!
Que NUNCA
devem ser
apenas sonhos.
Os principais,
aqueles que movem minha vida (que são quase todos),
devem ser Grandes Projetos.
E se não consigo pagar
ou achar alguém para torná-los realidade,
aprenderei o que tiver que aprender
para fazer com minhas próprias mãos.
Afinal
a única pessoa que se arrependerá
de não tê-los realizado
no meu último minuto de vida,
será EU.
E não quero morrer com essa culpa
de ser o único culpado de desistir
dos meus próprios sonhos.
E, depois de tudo isso dito, dizem:
“Tem que ser assim mesmo.”
“Certíssimo.”
Apenas sorrio.
Sei que estou certo.
Acho que estou ficando louco.
1 semana em mim mesmo...
Caminhando sem rumo...
Tentando mapear toda esta imensidão.
Bilhões de anos-luz quadrados,
preenchidos por nada
que eu consiga entender.
Olho para meu quadro de rolhas na parede.
Para meu computador.
Para minha segunda garrafa de vinho do dia.
E...
Nada.
Não sinto nada.
Não entendo nada.
Não sei o que estou buscando.
Não sei o que estou fazendo aqui.
Sozinho.
No silêncio.
No vazio.
Dentro.
No escuro.
Sem rumo.
Sem necessidade de rumo.
Existindo,
porém,
com medo.
Medo de me perder dentro de mim mesmo.
Medo de me encontrar
e descobrir que
sempre fui
quem nunca sou.
Porque...
Se descobrir...
Terei
que decidir ser.
Decidir jogar fora quase tudo, talvez?
Mas se não sou quase nada disso tudo,
de que vale guardar qualquer coisa?
Tudo que fui
já estará contido em mim.
Tanto faz quem foi.
Que jogue tudo fora mesmo!
O rascunho pode ser jogado fora.
A lição e a criação estão retidas.
Então,
que se jogue mesmo!
Jogue tudo fora!
Lance ao ar e taque fogo!
Que se foda!
Que se apague!
Que se suma!
O que restará... Se restou...
É porque existe.
É porquê...
Isso sou Eu.
Isso é Meu.
Se não fosse,
não teria sobrado.
Ou melhor,
não teria ficado.
Assim é melhor.
Assim terei mais espaço para o Novo.
Mais espaço para um novo Eu.
Mais espaço para
Eu.