Eu simplesmente não consigo mais.
Não consigo olhar para a carne sem ver a alma.
Eu PRECISO ver além.
Preciso ver para Dentro.
O Fora não faz sentido algum sem o Dentro.
Não faz sentido o Corpo sem a Alma.
Será que estou velho demais?
Ou será que estou... maduro?
Estou chato?
Ou apenas aprendi a ver além?
Vejo corpos com pedaços de almas...
Mas não são Almas quebradas.
São Almas em construção.
Será que a minha, finalmente, se construiu?
Olha... duvido.
Duvido que esteja qualquer coisa perto de pronta.
Mas, com certeza, está, no mínimo, acordada.
Talvez antes,
enquanto estivesse em construção,
fosse apenas algo latente.
Algo em crescimento.
Como a mais bela flor que,
até se abrir,
é apenas uma esperança de florescimento e beleza;
mas quando floresce,
tudo que aconteceu antes se esquece.
A flor apenas existe,
e tudo mais que existiu,
cessa.
Tanto faz o que existiu.
O que existiu, já não mais.
O que existiu já se materializou.
Agora não tem mais volta.
Sou flor brotada.
Não tem mais corpos em desenvolvimento
que me atraem.
Eles não fazem sentido.
Com eles
não posso mais me comparar.
Com eles
não posso mais ser jardim completo.
Com eles
posso ser apenas buquê.
Mas, ainda assim, tem brotos que quero ver florescerem.
Brotos que, antes disso, já vejo como a mais bela flor.
Brotos que são a mesma flor que eu.
E espero.
Sei que brotarão.
Mas, até lá,
tenho que esperar.
E apenas sentir a brisa.
E trazer vida ao meu jardim.
Olha, não posso me arrepender de nada.
Todo amor que eu poderia dar, eu dei.
Todo carinho que eu poderia dar, eu dei.
Talvez tenha dado demais?
Talvez tenha dado muito
de algo que não fosse necessário,
e não tenha dado
o que se precisava mais.
Talvez eu não tenha sido totalmente eu.
Quer dizer,
com certeza eu não fui totalmente Eu.
Fui muito e pouco, de forma aleatória.
Totalmente inconsistente.
Incoerente.
Não coeso.
Só não posso dizer,
nunca,
que não amei de verdade.
Que não amei com a pureza dos meus olhos
e com a ternura do meu coração.
O que fiz de errado?
Não sei.
Fiz errado?
Não sei.
Acho que não.
Tudo que fiz foi com amor.
Às vezes machucamos quando amamos demais,
e acho que esse foi o problema.
Mas, problema?
Será?
Como amar demais pode ser um problema?
Que ideia estúpida.
Que lógica cretina.
E desde quando o amor tem lógica?
Se tem lógica, tem algo errado.
Acho que achei o problema.
O problema foi ficar procurando pelo problema.
Ou melhor,
pela solução.
Tem coisas que não podem ser corrigidas, alteradas, manipuladas, escondidas, maquiadas e nem nada disso.
Essas coisas que acabei de citar
são aquelas coisas
que não enxergamos.
Que não conhecemos ainda.
Essas... Ah!
Ninguém arruma!
Elas te destroem a Alma a vida inteira
e você nem percebe que estão lá!
São as farpas no coração.
As pedras no sapato.
As unhas encravadas.
Ou pior...
É o não dito.
É a culpa.
É o dito indevidamente.
É a mentira.
Ou é a verdade, às vezes.
Por que somos tão fáceis de se dilacerar?
E tão difíceis de curar?
E depois disso tudo
nem sei mais por que continuo falando.
Acho que o amor é assim.
Você vai, vai, vai...
Sem rumo,
achando que está indo a algum lugar.
Quando percebe,
se perdeu.
Nada ao redor.
E, onde está?
Onde está a pessoa com quem você estava?
Onde está a pessoa que fez você se perder no caminho?
Ela se perdeu?
Ou te despistou?
Agora segue.
Sozinho.
Pronto ou não.
Mas, sozinho.
Ou melhor...
com você mesmo.
Não tem companhia melhor.
Mas, dessa vez,
não se arrependa.
Faça tudo de novo.
Dê e se entregue novamente, sem medo.
Mas, dessa vez, dê tudo...
a você mesmo.
E vai passar.
Vai parar.
Vai sumir.
Para depois
recomeçar.
É incrível como você está em todo lugar!
Nas memórias.
Nos cheiros.
Nas músicas.
Nos móveis.
Na corrida.
No trabalho.
No céu.
No meu passado.
No meu futuro.
No meu presente.
No meu instante.
Mas como pode estar em tudo
se não está mais?
Acho que é tudo uma ilusão, então.
E como acabar com isso?
Precisa terminar!
Não aguento mais!
(Você) é tão persistente!
Como pode persistir tanto em continuar comigo,
se não quer mais estar?
Que mensagens confusas!
Está e não está.
Gosta e não gosta.
Ama e não ama.
Quer e não quer.
Desculpe...
Desculpe mesmo minha ansiedade.
Estou muito ansioso ultimamente.
Esta confusão não é só sua.
Claro, passou muito para mim,
mas não é tudo culpa sua.
Obviamente.
Eu também estou confuso.
Também não sei direito para onde ir mas,
afinal,
alguém sabe?
Quem sabe talvez eu saiba daqui um tempo.
Acho que estou no caminho certo
para descobrir algo que eu já saiba...
...mas tem que ser longe de você.
Então, desculpe,
mas não estarei presente
até eu descobrir.
Eu não queria ficar longe de você,
obviamente (de novo),
mas não tenho opção.
Não mesmo.
Quem sabe, assim você me deixa?
Quem sabe assim você me deixa ir.
Quem sabe, assim eu te deixo ir?
Quem sabe assim eu me deixo ir de você.
...
Mas será que eu quero?