É engraçado como a vida naturalmente une as pessoas.
Quando estamos assim, bem perto do fim, percebemos tanta coisa!
Bom, eu percebo COISAS DEMAIS desde meus 20 anos.
Por isso acho que estou tão louco.
Já escrevi centenas de livros!
É minha melhor forma de expressão.
Faz parte de mim!
Simplesmente consigo sentar e começar a escrever loucamente!
Escrevo de qualquer jeito e nem preciso revisar.
Sai do jeito que veio ao mundo.
Claro, faço uns ajustes mínimos depois, mas de modo geral, é do jeito que nasceu.
É estranho, mas é orgânico.
É como ele toca.
Ele toca assim.
Senta no piano e simplesmente... toca!
Eu entendo perfeitamente!
Meu cérebro pensa em letras.
O dele em notas.
E na vida é assim.
As coisas vão acontecendo.
Achamos que não estamos fazendo nada de diferente, mas estamos tocando.
Tocamos a cada segundo nossa própria música.
Fazemos nossa melodia, mas não podemos corrigir.
Não podemos voltar atrás e tocar novamente a nota errada.
Não podemos apagar o texto e reescrever.
Esta é a punição de viver.
Ter que seguir apenas em frente e conviver com seja lá o que já saiu.
Aceitar o que nasceu, com as imperfeições que veio.
Enxergar a perfeição na imperfeição.
Se está vivo, será que é imperfeito?
Ou é apenas mais uma parte de algo em construção?
Uma parte do que está sendo construído em nós mesmos?
E no mundo.
E no universo.
E além de toda essa bagunça que não entendemos, mas que, não é possível, tem que fazer sentido para algo.
E no fim, cá estamos nós.
Depois de tantos anos!
Juntos ainda.
Lembro há dezenas de anos, quando eu escrevia meus primeiros poemas para você.
Livros e livros sobre nós.
Quer dizer, sobre Mim impactado por você.
Sobre as sequelas e consequências de Você na minha vida.
Sobre o que o seu amontoado de moléculas de carbono causava no meu amontoado de moléculas de carbono.
E no fim, continuamos unidos.
Que coisa, né.
Unidos pelo quê?
Uma vida inteira e nem descobrimos.
Que bosta.
Acho que no fim o importante para o universo era isso.
Eu escrever um monte de merda e você tocar um monte de merda.
Eu aprender a tocar com um pianista de merda e você aprender a escrever com um escritor de merda.
*Risos*
O universo é uma merda.
Você toca tão bem!
Deve ter tido um ótimo professor!
Claro.
Eu que fui seu professor.
*Risos*
Você toca como eu.
É incrível.
A mesma intensidade.
Os mesmos movimentos.
Você aprendeu comigo ou eu apenas permiti você ser você mesmo?
Sem barreiras.
Sem empecilhos.
Sem julgamentos infundados.
Eu sei que fui essencial para você.
Sei que te abri muitas portas.
Te fiz ver muitas coisas que você talvez nunca visse sem mim.
Claro que estou dizendo tudo isso depois de você mesmo ter me contado!
Aprendemos tanto um com o outro.
Aprendemos a nos amar.
Aprendemos a nos cuidar.
Tivemos que ensinar um ao outro o que é amar e cuidar.
Achávamos que sabíamos.
Como fomos inocentes.
Mas, afinal, quando somos jovens, sempre somos ingênuos ou inocentes.
Tem coisas que só o tempo e as experiências ensinam!
Não tem como!
Só sei que quanto te vejo tocar, eu me vejo.
Lembro um dia quando você disse:
“Eu me vejo tocando em você, quando você toca. Eu sinto o que você sente! Eu sinto que estou DENTRO de você!”
Eu demorei alguns anos para entender, mas um dia, você tocou de tal forma, que me tocou.
Eu me vi em você!
Foi incrível!
Algo que eu NUNCA tinha entendido e nem imaginado ser possível!
Quantas vezes não estamos com alguém buscando algo perdido em nós?
Quantas vezes não ficamos ao lado de pessoas que são quem queremos ser?
Que têm o que queremos ter?
Que fazem o que queremos fazer?
Queremos um pedaço delas!
E vamos com fome.
E lutamos para continuar tendo aquele pedaço de nós que está dentro delas!
Não conseguimos tirar dali.
Não estamos nos esforçando para criar em nós.
Mas estamos ali observando... nós mesmos fora de nosso corpo.
Quando faremos por nós o que precisamos e queremos?
Eu não sei.
É uma batalha diária.
Só sei que, por enquanto, só quero continuar te vendo tocar.
Ou melhor, quero continuar ME vendo tocar.
Me vendo tocar POR você.
Quando eu morrer, eu quero morrer DENTRO dessa INTENSIDADE.
Dentro disso tudo que eu vejo de mim em você.
Por isso te amo.
Eu acho.
Updated: Aug 18
Foi tudo tão de repente.
Já não é a primeira vez que isso acontece.
Cada vez é um susto diferente.
Cada vez é uma pessoa diferente.
Eu, você.
Você, eu.
Estamos competindo para saber quem vai primeiro.
Que loucura.
Nunca me esqueço quando você contou uma piada:
“Do jeito que eu estou, é capaz de eu ir antes de você.”
*Risos*
Como a vida é esse grande mistério.
Nunca sabemos o que vai acontecer.
Quem vai acontecer.
Quem vai desacontecer.
Mas...
Não, não quero pensar nisso.
Mas, e se você for primeiro?
O que vou fazer?
Como vou continuar?
Como podemos seguir em frente com algo que começamos há tantos anos?
Tem fim?
O fim é o fim?
Ou, como sempre, todo fim é um começo?
Existem fins que são fins mesmo?
Você está dormindo tranquilo.
Eu choro toda vez que penso que você pode ir antes.
Como choro!
Se você for, eu tenho praticamente certeza que não vou durar muito.
Não sei o que existe em você, mas, com certeza, uma parte importante de mim está aí.
Você sabe disso.
Você sabe que tem algo muito valioso meu aí dentro.
Já terminamos e voltamos tantas vezes!
Você já tentou devolver muitas vezes o que te dei, mas você não consegue.
Você se apegou.
Você aprendeu a gostar.
Aprendeu a cuidar e amar.
É como aquele cachorro que seu pai ranzinza não quer... até você aparecer com o filhote em casa.
No fim, ele é o que mais cuida e ama o bicho.
E quando o bicho se vai, uma parte do velho vai junto.
Uma parte do coração dele se vai junto.
Todos nós perdemos um pedaço de nós com cada perda.
Ganhamos um pedaço do que se foi também... claro.
Mas um pedaço único de nós sempre se vai.
No fim da vida somos esse grande emaranhado de pedaços.
Espaços que antes eram preenchidos com algo nosso, se preenchem com algo de alguém.
E mantemos aquilo lá.
Seja bom ou seja ruim.
E depois de um tempo, aquilo é nosso.
Faz parte de nós.
Somos nós tudo aquilo.
Mas e agora?
O que vou fazer quando você partir e levar um pedaço tão grande de mim?
Como vou fazer?